Uma grande crise hídrica expõe os problemas do município e pede uma pausa para reflexão. Com muitos rios, córregos, lagoas e outras reservas de água completamente secas, o município de Ataléia sofre com a maior estiagem de sua história. A situação é pior nos distritos de Ataléia. Em Fidelândia, caminhões-pipa ajudam a população no abastecimento básico. Em Novo Horizonte, um chafariz abastecido por uma mina supre a demanda de água da população. São Miguel e Tipiti também vivem dias de escassez e racionamento. Rios importantes como São Mateus e Cibrão estão praticamente esgotados. E veios importantes como o córrego Peixe Branco e outros que abastecem nossos distritos e povoados também já não possuem água em seu leito. Nos arredores de Ataléia, dezenas de córregos que regavam comunidades e propriedades rurais já se esgotaram completamente ou correm sem o mínimo vigor. Açudes e represas construídos para saciar a sede do gado também se encontram secos. O
blog MM esteve visitando os arredores de Ataléia, indo até a comunidade do Poterrão onde constatou e registrou a situação penosa. A instalação de poços freáticos, também chamados de poços semi artesianos, foi uma das soluções que muitos fazendeiros encontraram para captar água para os seus rebanhos. Na comunidade do Poterrão e em outros pontos do município foram instalados poços artesianos pelo governo do Estado para caso emergencial de completa falta d'água. Seguem imagens.
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Gado pastando sobre leito seco de córrego (Vila Seca) |
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Modad Alchaar sentado no leito seco do córrego Bananal que corria em abundância em suas terras (Poterrão) |
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Plantação de milho arruinada por falta d'água |
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Leito completamente seco e irrigação parada |
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Lagoa seca (fazenda de Nilo Kretli) |
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Poço semi artesiano (fazenda de Nilo Kretli) |
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Leito do córrego Bananalzinho ( 21/10/15) |
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Lagoa seca (Poterrão) |
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Terras no Poterrão que há 64 dias não recebem águas da chuva (21/10/15) |
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Serra onde situa-se a nascente que ainda abastece a comunidade do Poterrão (21/10/15) |
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Caminhando sobre o leito seco do córrego Poterrão (21/10/15) |
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Lucindo, proprietário da terra onde se encontra instalado o poço artesiano da comunidade do Poterrão |
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Com 104 metros de profundidade , o poço artesiano do Poterrão foi instalado pelo governo do Estado e deverá ser usado em caso de emergência
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A maior seca da história do município
Sem chuva há mais de 64 dias, Ataléia vive a pior seca de sua história. Os baixos índices pluviométricos têm sido constantes ano após ano na região. Mudança no ciclo das chuvas que caíam em setembro e agora vêm em novembro e alterações que torna o clima mais quente são fatores indiscutíveis de que há algo errado. Desmatamento sem proporção, poluição das águas, do solo, do ar, crescimento desordenado das áreas urbanas. Uma verdadeira desobedi
ência às leis ambientais que visa somente ao benefício individual e traz o prejuízo coletivo. Tudo isso contribui para a somatória final que indica prejuízo à Natureza. Não pode haver progresso sem sustentabilidade, por isso é hora de cada um reconhecer onde pode ajudar e fazer sua parte.
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Rio Norte (Outubro 2015) |
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20/10/2015 |
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Peixe morto (20/10/15) |
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O forte cheiro exala do rio Norte como verdadeiro esgoto a céu aberto |
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20/10/15 |
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Lixo jogado pela população |
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Sr. Manoel Marques pela primeira vez em 46 anos como observador hídrico da cidade se depara com um cenário tão desolador e lamenta ver a natureza tão impactada |
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Manoel Marques afirma ser a maior seca ocorrida no município. Como morador da cidade há 65 anos e como observador hídrico há 46 anos, jamais havia marcado índice de 62 cm em suas réguas e visto tão poucas chuvas |
A Agonia do Rio Norte
O rio Norte, em toda sua história, nunca viveu dias tão terríveis. Este rio, motivo de orgulho e motivo de belas lembranças de moradores e ex-moradores que um dia pescaram, nadaram ou brincaram, boiando e mergulhando em suas águas profundas e ligeiras, hoje agoniza, arrastando águas rasas, lentas e fétidas. Seus habitantes mais ilustres, os lépidos e simpáticos lambaris, as chateiras, as traíras, os piaus, os bagres e tantos outros personagens que povoavam com glória sua história, hoje se encontram desaparecidos, moribundos, asfixiados, virados, mortos, entulhados em seu leito desconfortável de água suja à espera dos silenciosos urubus. A consciência de todos nós, que um dia semeamos lixo em suas margens, que despejamos nossos dejetos hospitalares, residenciais, comerciais, industriais, ou detritos de qualquer natureza em seu leito, que decepamos as raízes daquelas plantas aparentemente estúpidas que se propuseram a permanecer vivendo estáticas e sem futuro promissor em suas margens, talvez, sofra calada e sem muita culpa, com pouca dor. Provavelmente por não termos sido capazes de perceber que um dia até os poderosos e caudalosos rios chegam ao fim. Do rio Norte, é apenas o começo do fim. E talvez virá o fim de nossas velhas consciências que viveram, que vivem e que, certamente, um dia morrerão alimentando o sonho da prosperidade, à procura do futuro sem perceber que não haverá futuro sem o presente. Um dia, achamos um rio. A ele demos um nome e nos orientamos por ele. Seguindo suas curvas, levantamos uma cidade. Perdendo o Norte, teremos apenas começado o fim de nossa história.
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20 de outubro 2015
Peixe morto (25/10/15) |
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Águas escuras e fétidas do Rio Norte - Ataléia (25 de outubro 2015) |